GÊNERO E AUTOMUTILAÇÃO NA ESCOLA BÁSICA: UM ESTUDO DE CASO
DOI:
https://doi.org/10.47385/praxis.v12.n23.2837Keywords:
gênero, educação em gênero, automutilação, escola básica, violência sexual.Abstract
Resumo
Em meio ao intenso debate da atualidade sobre gênero e educação, surge a demanda de uma escola de ensino fundamental, situada em uma área de extrema miserabilidade e violência: a automutilação entre adolescentes vítimas de abuso sexual. A despeito desta realidade, o sistema educacional permanece ancorado em uma estrutura ‘escolarizatória’, que pouco vislumbra os demais aspectos da vida de seu alunado. Com base nesta premissa, este trabalho objetivou analisar as possíveis correlações entre as relações de gênero e episódios de automutilação identificados entre adolescentes que compõem esta comunidade escolar. Para tanto, foram realizadas rodas de conversa semanais, com 10 jovens- com idades entre 11 e 15 anos, além de 3 profissionais da educação. Utilizamos ainda como instrumento metodológico, a observação livre e o registro em caderno de campo. Através da articulação e análise dos dados coletados, observamos que as relações de gênero estariam a funcionar como o arcabouço no qual toda a estrutura de violência se erige. A falta de estrutura e preparo dos espaços e agentes públicos, estaria a fomentar o desenvolvimento do autoflagelamento como alternativa de expurgo das dores psíquicas. Neste cenário, entendemos a necessidade de repensar a educação em gênero e desconstruir paradigmas fundamentados em valores patriarcais hegemônicos.
Abstract
Amid the current intense debate on gender and education, there is a demand for a primary school located in an area of extreme misery and violence: self-mutilation among adolescents who are victims of sexual abuse. In spite of this reality, the educational system remains anchored in a school structure, that little glimpses the other aspects of the life of its pupil. Based on this premise, this study aimed to analyze the possible correlations between gender relations and episodes of self - mutilation identified among adolescents that make up this school community. For that, weekly talk wheels were held, with 10 young people - aged between 11 and 15 years old, as well as 3 education professionals. We also used as a methodological tool, free observation and registration in a field book. Through the articulation and analysis of the collected data, we observed that gender relations would be functioning as the framework in which the entire structure of violence is erected. The lack of structure and preparation of spaces and public agents, would be encouraging the development of self-flagellation as an alternative to purge psychic pain. In this scenario, we understand the need to rethink education in gender and deconstruct paradigms based on hegemonic patriarchal values.
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