Fotografia, memória e esquecimento: A nascente sociedade urbana da Vila de Entre-Rios e o lugar dos escravos libertos e seus descendentes
DOI:
https://doi.org/10.47385/cadunifoa.v7.n1%20Esp.2059Palavras-chave:
fotografia, história, escravos, pós-abolição, sociedadeResumo
A cidade de Três Rios, inicialmente Vila de Entre-Rios, tem sua formação urbana vinculada aos espaços físicos das fazendas de café que pertenceram à Mariana Claudina P. de Carvalho, a Condessa do Rio Novo e seus pais, o Barão e a Baronesa de Entre- Rios. Os escravos, personagens com pouca acuidade para a história vista de cima, mas importantes no contexto historiográfico da Nova História Cultural, foram libertos por desejo expresso no testamento da Condessa que deliberou a utilização das terras de uma das suas propriedades para o assentamento destes e criação da Colônia Agrícola de Nossa Senhora da Piedade composta no ano de 1882 e extinta em 1932 motivada por uma combinação de fatores. Neste trabalho analiso a inserção da população pobre e negra no espaço urbano de relação daquela sociedade nascente no pós-abolição, utilizando-me para tanto das fotografias do acervo acumulado nas minhas pesquisas do mestrado, entendendo-as em sua dupla dimensão como fonte e testemunho de memória, um lugar de lembrança relacionado a todas as representações a elas associadas, percebendo presenças e ausências destes indivíduos em determinados espaços e grupos de relação. É possível admitir que a coletividade entrerriense, mesmo sendo de uma cidade em formação no interior do Estado do Rio de Janeiro, refletia a configuração da sociedade brasileira a época: nova organização social burguesa republicana (comercial, industrial e financeira), capitalista e urbana e são os representantes desta elite que produziram as imagens analisadas: o olhar fotográfico reflete em sua maior parte “as cenas” do cotidiano deste grupo. Os discursos da cidade são construídos e reconstruídos nas ações dos embates de memórias dos diversos grupos sociais que a compõem. Mas todos de uma forma ou de outra, lembrados ou deixados no esquecimento, “escrevem” seus traços identificadores culturais; assim também os negros libertos e seus descendentes construíram sua fala, sua narrativa, memórias visitadas pelas fontes e testemunhos fotográficos.
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