Mal-estar na infância: por uma perspectiva da desmedicalização do sofrimento infantil
DOI:
https://doi.org/10.47385/cadunifoa.v14.n41.3087Keywords:
, psicanálise, desmedicalização, mal-estar, sofrimentoAbstract
A progressiva patologização e medicalização dos sofrimentos psíquicos, principalmente aqueles que recaem sobre a infância, tem sido uma tônica contemporânea. Na busca de respostas eficazes para a eliminação radical do mal-estar, dos sofrimentos e dos dissabores da vida, a infância tornou-se alvo de massivas intervenções medicamentosas profiláticas com vistas a extinguir qualquer vestígio de anormalidade. Entretanto, a excessiva obsessão por detectar indicadores de anomalias, diagnosticar precocemente tudo aquilo que foge ao roteiro da normalidade pode também suprimir as diferenças e capturar as diversas formas de ser criança. Se, por um lado, constatamos a proliferação massiva de critérios diagnósticos, por outro, a partir da clínica, observamos o enclausuramento das crianças nos imperativos contemporâneos de sucesso, saúde perfeita e bem-estar. Nesse sentido, torna-se necessário interrogar qual é o espaço designado ao mal-estar infantil na atualidade. Com vistas a aprofundar essas reflexões teóricas, este estudo visa discutir fatores que estão jogo na tessitura do mal-estar na infância como as noções de medicalização, os paradigmas contemporâneos e a transformação do sofrimento em adoecimento psíquico.
Downloads
References
AGUIAR, Adriano. A psiquiatria no divã: entre as ciências da vida e a medicalização da existência. Rio de Janeiro, RJ: Relume Dumará, 2004.
BIRMAN, Joel. Muitas felicidades?! O imperativo de ser feliz na contemporaneidade. Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, p. 27-47, 2010.
BIRMAN, Joel. Genealogia da clínica. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 21, n. 3, p. 442-464, 2018.
BRANT, L. C., & MINAYO-GOMES, C. A transformação do sofrimento em adoecimento: do nascimento da clínica a psicodinâmica do trabalho. Ciência e Saúde Coletiva, v. 9, p. 213-223, 2004.
DOLTO, Françoise. Prefácio. In: A primeira entrevista em psicanálise. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
EHRENBERG, Alain. O culto da performance: da aventura empreendedora à depressão nervosa. Aparecida: Ideias e Letras, 2010.
FLESLER, Alba. A psicanálise de crianças e o lugar dos pais. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
FREUD, Sigmund. (1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos: o pequeno Hans. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1976.
FREUD, Sigmund. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. Edição Standard brasileira das obras completas de Freud, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, Sigmund (1920). Além do princípio do prazer. Edição Standard brasileira das obras completas de Freud, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
.
GAUDENZI, Paula.; ORTEGA, Francisco. O estatuto da medicalização e as interpretações de Ivan Illich e Michel Foucault como ferramentas conceituais para o estudo da desmedicalização. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v. 16, n.40, p. 21-34, 2012.
GUARIDO, Renata. A medicalização do sofrimento psíquico: considerações sobre o discurso psiquiátrico e seus efeitos na educação. Educação e Pesquisa, v. 33, n.1, p.151-161, 2007.
GUARIDO, Renata. A biologização da vida e algumas implicações do discurso médico sobre a educação. In Conselho Regional de Psicologia de São Paulo & Grupo Interinstitucional Queixa Escolar (Orgs.), Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos (pp. 27-39). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo, 2010.
JERUSALINSKY, Julieta. A melancolização na infância contemporânea: entre o linchamento virtual e a política do “no touch”. Cadernos de Psicanálise – SPCRJ, v. 34, n. 1, p. 26-33, 2018.
LACAN, Jacques. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1969.
LIMA, Rossano Cabral. Somos todos desatentos?: o TDA/H e a construção das bioidenti¬dades. Rio de Janeiro: Relumé Dumará, 2005.
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Zahar, 2000.
TENÓRIO, Fernando. Desmedicalizar e subjetivar: A especificidade da clínica da recepção. Cadernos IPUB, v.6, n.17, p. 79-91, 2000.
TENÓRIO, Fernando. Psicose e esquizofrenia: efeitos das mudanças nas classificações psiquiátricas sobre a abordagem clínica e teórica das doenças mentais. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 23, n. 4, p. 941-963, 2016.
WHITAKER, R. A anatomia de uma epidemia. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2017.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Declaração de Transferência de Direitos Autorais - Cadernos UniFOA como autor(es) do artigo abaixo intitulado, declaro(amos) que em caso de aceitação do artigo por parte da Revista Cadernos UniFOA, concordo(amos) que os direitos autorais e ele referentes se tornarão propriedade exclusiva desta revista, vedada qualquer produção, total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação, impressa ou eletrônica, sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada e, se obtida, farei(emos) constar o agradecimento à Revista Cadernos UniFOA, e os créditos correspondentes. Declaro(emos) também que este artigo é original na sua forma e conteúdo, não tendo sido publicado em outro periódico, completo ou em parte, e certifico(amos) que não se encontra sob análise em qualquer outro veículo de comunicação científica.
O AUTOR desde já está ciente e de acordo que:
- A obra não poderá ser comercializada e sua contribuição não gerará ônus para a FOA/UniFOA;
- A obra será disponibilizada em formato digital no sítio eletrônico do UniFOA para pesquisas e downloads de forma gratuita;
- Todo o conteúdo é de total responsabilidade dos autores na sua forma e originalidade;
- Todas as imagens utilizadas (fotos, ilustrações, vetores e etc.) devem possuir autorização para uso;
- Que a obra não se encontra sob a análise em qualquer outro veículo de comunicação científica, caso contrário o Autor deverá justificar a submissão à Editora da FOA, que analisará o pedido, podendo ser autorizado ou não.
O AUTOR está ciente e de acordo que tem por obrigação solicitar a autorização expressa dos coautores da obra/artigo, bem como dos professores orientadores antes da submissão do mesmo, se obrigando inclusive a mencioná-los no corpo da obra, sob pena de responder exclusivamente pelos danos causados.